terça-feira, 19 de agosto de 2014

O DESTINO E DEUS


Como era de costume, Deus observava a sua criação, intrigava-se como os homens ainda o surpreendiam com o seu livre arbítrio.
Havia esse homem, dependente de álcool que já tivera muitas promessas em sua vida, cruzou caminhos que poderiam ter lhe levado a outro destino, mas por coisas da vida, ambiente, amigos e frustrações mal resolvidas entregou-se ao vício e viu na bebida uma fuga, um consolo.
Já não era como antes o fora, agora, o rancor e a raiva permeavam-lhe o espírito. Mal se lembrava o que havia sido, e nas esquinas das lembranças, entre um arrependimento e outro às vezes via a luz, passada, que agora só lhe projetavam a sombra.
Deus então, curioso, resolveu espiar o seu futuro, algo que já não fazia a tempos. Avançou cuidadosamente no tempo para ver o que se daria daquele homem no ano que se seguia. Murchou-lhe o semblante ao ver que dentro de 2 semanas este homem morreria num acidente de carro.
Parou por um momento, não avançou mais na vida daquele pobre homem. Porém foi inevitável ver que aquele acidente fatal envolvia outra pessoa, um menino de 12 anos. Novamente o impulso lhe vinha a tona, e avançou rumo ao futuro daquele menino. Era como uma teia de possibilidades, possibilidades que talvez trouxessem ao mundo um homem inteligente, sagaz, um pesquisador que um dia poderia trazer uma cura, um grande bem a humanidade.
Parou de novo, pensou mais um pouco e lutou inutilmente contra a intervenção. Resolveu, só mais uma vez, enviou um anjo que impediu o acidente. Ele sabia que implicava nas questões do livre arbítrio, que havia fundado a base do amor legítimo, ele sabia que isso era contra as suas próprias regras, mas fez-o mesmo assim, como um brinde a vida, como uma chance para os dois.
Três semanas após porém, foi surpreendido. Cravaram-lhe no coração granizos de tristeza ao ver que o homem que havia salvo assassinara a sua própria família ao atear fogo em sua casa após uma crise de ódio embalada pela bebida. Satanás havia lhe pregado uma peça.
Havia de fazer algo de bom de tudo isso, não era possível que isto terminasse assim. Amava tanto os homens, que neles estava a sua fraqueza, e Satanás sabia disto e não hesitava em aproveitar qualquer oportunidade que entristecesse Deus.
Com os olhos longe nas galáxias Deus absteu-se dos demais pensamentos e resolveu pensar naquele caso específico. Mais uma vez percebera que sua intervenção não era boa, nem mesmo quando parecia boa. Pois não poderia carregar a humanidade no colo e intervir em toda vida de cada homem. Não que não pudesse, mas porque iria ceifar-nos de nossa liberdade. E consequentemente privaria-o da recíproca de um amor legítimo.
Avançou mais uma vez no futuro daquele menino, viu que mais tarde conheceria as drogas, não permaneceria nelas, mas suas sequelas impediriam de desenvolver seu futuro brilhante pois vivia num bairro muito pobre, e seus amigos eram-lhe má influência.
Este episódio serviu-lhe como lição e não mais repetiria o mesmo erro. Não mais interviria diretamente.
Resolveu então espalhar sua sabedoria aos ventos, na mais pura forma de amor. De forma que mesmo aos mais inquietos de coração chegassem-lhe pensamentos e idéias em forma de inspiração. Algo sempre para o bem, uma chance, uma idéia, um sussuro.
Tal qual o ódio, a inspiração dissipa-se com o tempo, e tal qual o ódio, a inspiração pode ser bloqueada. Temos esta capacidade e Ele sabe disso. Desta forma encontrou um maneira de soprar-nos à suave brisa um conselho de pai, um consolo de amor.
Caberia então a nós decidirmos o que fazemos, cabe a nós decidirmos os rumos da nossa vida. A brisa está entre nós tanto como a tormenta. Os caminhos a nós pertencem.


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