terça-feira, 19 de agosto de 2014

A conversa entre Deus e o beduíno

Certa vez um Beduíno, de família comerciante desprendeu-se de sua caravana e estava perdido no deserto.
Passava por dificuldades, e diante da situação sentou-se sobre a sombra de uma tamareira.
Já ouvira falar do Deus cristão, e resolveu conversar com Ele...

-Senhor o que faço agora? Continuarei meu negócio, ou será chegado o fim deste período?
-Não somente fazes o bem trabalhando, mas deixando de o fazer, não somente fazes o mal atuando, mas deixando de agir.
Toda a sega tem seu início e seu fim, todo o tempo passa diante de teus olhos, mas o futuro é incerto aos que estão na Terra.

-Senhor? O que queres dizer com isso? Devo me preparar para o fim deste negócio?
-Tudo ao seu tempo deve ocupar-lhe a mente, visto que o devaneio é pecado para os arrogantes, que frutos bons sairão de uma mente poluída, contaminada pelo seu ambiente?

-Senhor porque não me respondes diretamente sobre isso?
-Diz bem o homem que não sabe o futuro, pois ele a mim pertence, de nada adianta afligir-se perante o sol, se Eu que dou a sombra e o unguento.

-Queres dizer que ainda não é hora de pensar nisto?
-Deveras, sabes o que seu vocábulo lhe permite, mas pouco sabes sobre as minhas intenções.

-Mas mesmo assim, não teria eu que me preparar para uma longa jornada, ou pelo menos uma jornada que influirá diretamente na maneira em que vivo e me sustento?
-São muitas as armadilhas que sua mente lhe prega, assim como são tantos os grãos de areia. O que um grão de areia poderá julgar quando imerso sob a água senão a própria água que lhe cerca?

-Meu Deus! Ajude-me, guia-me, conte-me sobre seus planos, será que eu mesmo sou incapaz de planejar ou preparar-me diante dos seus planos?
-Treinas assim tua fé e obriga-te a escutar o Espírito Santo, de que outra forma senão a prática leva o aluno a se tornar mestre?

-Vejo que não posso nem conseguirei extrair-te-Lhe tal informação, resta-me conformar-me a esta situação, e acreditar em meus pensamentos, não seria este um caminho pior do que planejas para mim? Deixar-me a deriva de meus pensamentos?
-Não aprendestes nada do que lhe falei? Tenha fé, ter fé é acreditar, que de muitas formas falo contigo e ajo em sua vida.

-Desculpe-me. Mas o que faço quando as pessoas buscam em mim as respostas que não tenho, mas devo-lhes?
-Tens um sorriso sincero e uma alma pura, deixe que ela lhe guie nestas horas.

-Não será isso uma simples improvisação sem planejamento coerente? Não estarei enganando a eles?
-Não enganas se não prometes.

-Sabes que as pessoas ficam impacientes quando não lhes prometo, não lhes dou data, não lhes dou resposta feita, deixo-as se inflamarem?
-A sinceridade pode ser dura mas é eterna, imutável. Ela é irmã da verdade.

-Desculpe-me, mas o Senhor não tem planos para mim? Devo ir somente aonde acredito que seja o certo, acreditando ser inspirado por ti?
-De fato é difícil as pessoas acreditarem em mim, talvez por isso tudo esteja do jeito que está. Quis Eu que fosse diferente contigo.

-Senhor Deus, quando Pedro ou Paulo tiveram aquela visão das comias imundas, o Senhor mostrou-lhe o caminho, seria demais pedir que me orientasse assim? Seria demais Senhor?
-Não somente posso como já o faço, és cercado por pessoas do bem e que podem te ajudar, mas tu muitas vezes não os dá ouvidos.

-Sim, pois julgo com o que tenho e com o que aprendi a escutar, como posso eu Senhor uma criatura conturbada, como sabes que sou, dar ouvidos ou perceber tua vontade em meio a tanta confusão?
-Tu o sabes. Tu o sabes.

-Senhor, gostaria de comprar um camelo melhor, por vários motivos que já sabes, dentre eles a vaidade é claro, o que me dizes?
Eu lhes dei a Terra para usarem como bem entenderem, lhes dei tudo que há sobre ela, e que lhes tomem proveito, a labuta humana gira em torno disso, não vejo mal desde que saibas a hora certa de o fazer.

-Qual seria a hora certa?
-Atenta teus ouvidos e julga de acordo com o que sabes, não procures em demasiado para não afligir-lhe a alma, na hora certa, se aguardares o suficiente, saberás o que pode e o que não pode. Nunca aflija a alma com estas coisas.

-Deus, volto a insistir. Como devo proceder com meus negócios? Me parece demasiado difícil manter as coisas funcionando, há muito perdi o controle, e faço sofrer pessoas do bem.
-Nem tudo que acreditas é o certo, e o certo só a mim pertence. Tudo que vês são vaidades, e dentre as vaidades as que afligem a alma são as piores.

-Devo eu viver então assim? Esforçado e despreocupado? Não estaria eu sonegando a mim mesmo e aqueles que dependem de mim?
-Melhor é que caminhe constantemente do que parar para pensar sob o sol quente, pois este não lhe dá conforto. Conquanto que não desista de tua jornada, estarás indo para algum lugar. E o homem precisa seguir um caminho, chegar ao seu destino, para tanto é homem, e para tanto existe a jornada, que ensina e leva a algo. Um homem estagnado é o antônimo dele mesmo, antes que não existisse.

-Dívidas, e quanto as minhas dívidas, terei eu condição de pagar-las?
-As dívidas são promessas que avalizam e acorrentam, que fazem transparecer a decência do homem, se és honrado, cumpra-as e ao longo do caminho ser-lhe-há dado forças para que as cumpra. Reflete na atitude de um homem as promessas que faz aos outros e a si mesmo. Se não o fazes para si, quem dirá aos outros. Prometa a si o melhor e trate de o cumprir, siga a sua vida de maneira a ter objetivos, fixos, claros, limpos, e decentes.

-O mundo vai acabar?
-O mundo acaba-se todo dia e todo dia volta a nascer, o mundo como conheces se irá, e o mundo futuro tomará seu lugar. Não sabes distinguir, e se não o sabes, não tens como saber.

-E os "profetas", fale-me sobre eles.
São muitos, tanto quanto as ovelhas, são demasiados, e vertem a fúria e a confusão entre si, desorientam onde devem orientar, criam leis que não estabeleci. São lobos em peles de ovelhas, matam suas ovelhas para tomar-lhes a pele.

-São todos assim?
-Absolutamente não. Assim como nem todas ovelhas são ovelhas, nem todos profetas são profetas. Há muitos que trazem tristeza e se apossaram de autoridade ignóbil para enganar as pessoas. Muitos se sacrificam e acreditam que o fazem por mim, mas não o fazem.

-Existem bons profetas?
Todos aqueles que ajudam seu próximo são bons, todos que ajudam. Se não sabem ajudar e fazem mal, não estão livres de culpa, antes que não fossem "profetas". Pois sua impulsividade os levou a tal ponto, de envergonhar meu nome, se se abusam e se aproveitam em meu nome, estes não serão poupados, sofrerão pois não estarei com eles.

-Deus, é pedir muito que amoleça os corações daqueles a quem devo para que não tornem as coisas mais difíceis do que já está?
-Pedes muito, mas serás atendido, pois pedes compaixão e é algo que tens, por isso não sou Eu que lhe dou, mas tu já o têm.

-Senhor é preciso que eu passe por este caminho tortuoso que eu me encaixe nos teus planos? Ou é culpa somente minha?
-Não há culpa sem intenção. Não há maldade na luz. Todos tem o direito de errar e serem perdoados, a todos plantei uma árvore que lhe dará sombra. Se queimas no sol ardente é porque não vistes ainda a sombra, pelo fato de teus olhos se turvarem com a luz. Feche-os e abra-os novamente, com maior clareza para que de longe enxergues o ponto de descanso que abrandará tuas vistas, verás que há muita sombra em minha sega.

-Fechar os olhos significa não ouvir os outros e crer em Ti?
-Justamente.

-Mas como faço para te ouvir se todos gritam a minha volta?
-Assim como enxergas um pássaro em meio a arbustos, saberá de onde vem minha voz, tão logo consigas me enxergar.

-Obrigado por todas estas palavras de hoje, e confesso que gostaria de respostas mais diretas que me aliviassem a alma. Por que Tens que ser tão enigmático?
Pois sou a raiz que não se vê, mas que mantem firme a planta e a Terra.

-Amém.
-Crê, meu filho.

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