quarta-feira, 20 de agosto de 2014

Conselho a um amigo


Há coisas que demoram, há coisas que não acontecem, mas diga-me, poderia você enumerar as idéias que já teve até hoje? Talvez... Mas e as idéias que não teve? Impossível!
Se por algum motivo não acreditamos existir saída de onde estamos é pelo simples fato de não sermos capazes de imaginar as outras saídas, que estão lá à sombra de nossos pensamentos.
É fácil falar, eu sei, mas isto é apenas a introdução.
Imagine que você entrou numa sala escura e a porta fechou-se atrás de você, o desespero acomete-lhe a o pensamento ao perceber que a porta independente do que você faça não se abre.
É preciso achar a chave você pensa. Enquanto isso o desespero aumenta, você grita a princípio, mas não é ouvido e após algumas horas revirando gavetas a procura da chave o desespero lentamente transforma-se em frustração. -A porta deve estar trancada pelo lado de fora, esta é a fase de pôr a culpa em alguém.
Depois vem a depressão....Os porquês nos vem a tona, e finalmente passado algum tempo, a aceitação. Você senta-se no chão e aceita o fato de estar ali.
O que não sabemos, é que a vida não é assim. Deveras, você encontra-se sozinho e no escuro, mas existem muitas outras portas a sua volta. Você só não foi capaz de enxerga-las pois seus olhos estavam ofuscados com a claridade do mundo lá de fora, e a sua mente focada em voltar pela mesma porta.
Então o que é preciso fazer?
É preciso que nestas horas, primeiramente sejamos capazes de nos concentrar, fechamos os olhos, e isto significa redefinir valores, isto significa que voltemos a nossa essência, não aquela luz capitalista que nos faz ofuscar a visão.
Uma vez que conseguimos abdicar de nossos paradigmas estaremos dando lugar a outros valores que estão para vir. Aos poucos  aquela luz deixa de te ofuscar e você começa a enxergar melhor no “escuro” . Valores que sempre existiram, mas que fomos incapazes de enxergar.
A falta de dinheiro traz infelicidade? Sim, para aqueles que consideram a abundância dele uma felicidade.
Não quero cair aqui em clichês da filosofia indiana, mas faça esta mesma pergunta a uma mãe que perdeu seu filho num acidente de trânsito. A um doente de câncer em fase terminal. Ou então, se fosse possível aos milhares de ricos que ceifam suas próprias vidas ou vivem em depressão.
Parece óbvio não? Que o dinheiro não traz felicidade.
Mas então será preciso fazer um voto de miséria para ser feliz?
É claro que não!
Mas é preciso sim, definir as prioridades do espírito. É preciso que quando estiveres na luz capitalista não abra por demais teus olhos para que não te ofusques. Para que quando entrares naquela sala escura sejas capaz de olhar em outras direções. Sejas capaz de ver outras saídas.
Serenidade, esperança, são nossas ferramentas para tempos de escuridão. É preciso buscar uma luz, uma lanterna, mas se não a tiveres em mãos não se preocupe. Pois tens ao seu redor pequeninas fontes de luz, que apesar de ignoradas permanecem lá, você pode ajuntá-las e te darão um feixe suficiente para lhe dar coragem e te levantar do chão.
Estas pequenas centelhas de luz não são nada mais do que o que você já tem. Esposa, filhos, netos, amigos, uma cama para se deitar, um café ao acordar, pequenas felicidades que não enxergamos no nosso dia a dia. Alimente-as e intensifique a luz, agradeça-os, apegue-se as coisas mais simples e deixe que elas suavizem seu semblante. Reconheça em cada coisa a felicidade da vida. Inspire-se com canções de ninar, recompense-se com um sorriso.
Quando você menos esperar não mais estará forçando aquela porta em busca da luz externa, mas terá conhecido  muitas outras através da sua luz interna.
Coisas pequenas, coisas simples....

Carinhosamente,





terça-feira, 19 de agosto de 2014

O DESTINO E DEUS


Como era de costume, Deus observava a sua criação, intrigava-se como os homens ainda o surpreendiam com o seu livre arbítrio.
Havia esse homem, dependente de álcool que já tivera muitas promessas em sua vida, cruzou caminhos que poderiam ter lhe levado a outro destino, mas por coisas da vida, ambiente, amigos e frustrações mal resolvidas entregou-se ao vício e viu na bebida uma fuga, um consolo.
Já não era como antes o fora, agora, o rancor e a raiva permeavam-lhe o espírito. Mal se lembrava o que havia sido, e nas esquinas das lembranças, entre um arrependimento e outro às vezes via a luz, passada, que agora só lhe projetavam a sombra.
Deus então, curioso, resolveu espiar o seu futuro, algo que já não fazia a tempos. Avançou cuidadosamente no tempo para ver o que se daria daquele homem no ano que se seguia. Murchou-lhe o semblante ao ver que dentro de 2 semanas este homem morreria num acidente de carro.
Parou por um momento, não avançou mais na vida daquele pobre homem. Porém foi inevitável ver que aquele acidente fatal envolvia outra pessoa, um menino de 12 anos. Novamente o impulso lhe vinha a tona, e avançou rumo ao futuro daquele menino. Era como uma teia de possibilidades, possibilidades que talvez trouxessem ao mundo um homem inteligente, sagaz, um pesquisador que um dia poderia trazer uma cura, um grande bem a humanidade.
Parou de novo, pensou mais um pouco e lutou inutilmente contra a intervenção. Resolveu, só mais uma vez, enviou um anjo que impediu o acidente. Ele sabia que implicava nas questões do livre arbítrio, que havia fundado a base do amor legítimo, ele sabia que isso era contra as suas próprias regras, mas fez-o mesmo assim, como um brinde a vida, como uma chance para os dois.
Três semanas após porém, foi surpreendido. Cravaram-lhe no coração granizos de tristeza ao ver que o homem que havia salvo assassinara a sua própria família ao atear fogo em sua casa após uma crise de ódio embalada pela bebida. Satanás havia lhe pregado uma peça.
Havia de fazer algo de bom de tudo isso, não era possível que isto terminasse assim. Amava tanto os homens, que neles estava a sua fraqueza, e Satanás sabia disto e não hesitava em aproveitar qualquer oportunidade que entristecesse Deus.
Com os olhos longe nas galáxias Deus absteu-se dos demais pensamentos e resolveu pensar naquele caso específico. Mais uma vez percebera que sua intervenção não era boa, nem mesmo quando parecia boa. Pois não poderia carregar a humanidade no colo e intervir em toda vida de cada homem. Não que não pudesse, mas porque iria ceifar-nos de nossa liberdade. E consequentemente privaria-o da recíproca de um amor legítimo.
Avançou mais uma vez no futuro daquele menino, viu que mais tarde conheceria as drogas, não permaneceria nelas, mas suas sequelas impediriam de desenvolver seu futuro brilhante pois vivia num bairro muito pobre, e seus amigos eram-lhe má influência.
Este episódio serviu-lhe como lição e não mais repetiria o mesmo erro. Não mais interviria diretamente.
Resolveu então espalhar sua sabedoria aos ventos, na mais pura forma de amor. De forma que mesmo aos mais inquietos de coração chegassem-lhe pensamentos e idéias em forma de inspiração. Algo sempre para o bem, uma chance, uma idéia, um sussuro.
Tal qual o ódio, a inspiração dissipa-se com o tempo, e tal qual o ódio, a inspiração pode ser bloqueada. Temos esta capacidade e Ele sabe disso. Desta forma encontrou um maneira de soprar-nos à suave brisa um conselho de pai, um consolo de amor.
Caberia então a nós decidirmos o que fazemos, cabe a nós decidirmos os rumos da nossa vida. A brisa está entre nós tanto como a tormenta. Os caminhos a nós pertencem.


A conversa entre Deus e o beduíno

Certa vez um Beduíno, de família comerciante desprendeu-se de sua caravana e estava perdido no deserto.
Passava por dificuldades, e diante da situação sentou-se sobre a sombra de uma tamareira.
Já ouvira falar do Deus cristão, e resolveu conversar com Ele...

-Senhor o que faço agora? Continuarei meu negócio, ou será chegado o fim deste período?
-Não somente fazes o bem trabalhando, mas deixando de o fazer, não somente fazes o mal atuando, mas deixando de agir.
Toda a sega tem seu início e seu fim, todo o tempo passa diante de teus olhos, mas o futuro é incerto aos que estão na Terra.

-Senhor? O que queres dizer com isso? Devo me preparar para o fim deste negócio?
-Tudo ao seu tempo deve ocupar-lhe a mente, visto que o devaneio é pecado para os arrogantes, que frutos bons sairão de uma mente poluída, contaminada pelo seu ambiente?

-Senhor porque não me respondes diretamente sobre isso?
-Diz bem o homem que não sabe o futuro, pois ele a mim pertence, de nada adianta afligir-se perante o sol, se Eu que dou a sombra e o unguento.

-Queres dizer que ainda não é hora de pensar nisto?
-Deveras, sabes o que seu vocábulo lhe permite, mas pouco sabes sobre as minhas intenções.

-Mas mesmo assim, não teria eu que me preparar para uma longa jornada, ou pelo menos uma jornada que influirá diretamente na maneira em que vivo e me sustento?
-São muitas as armadilhas que sua mente lhe prega, assim como são tantos os grãos de areia. O que um grão de areia poderá julgar quando imerso sob a água senão a própria água que lhe cerca?

-Meu Deus! Ajude-me, guia-me, conte-me sobre seus planos, será que eu mesmo sou incapaz de planejar ou preparar-me diante dos seus planos?
-Treinas assim tua fé e obriga-te a escutar o Espírito Santo, de que outra forma senão a prática leva o aluno a se tornar mestre?

-Vejo que não posso nem conseguirei extrair-te-Lhe tal informação, resta-me conformar-me a esta situação, e acreditar em meus pensamentos, não seria este um caminho pior do que planejas para mim? Deixar-me a deriva de meus pensamentos?
-Não aprendestes nada do que lhe falei? Tenha fé, ter fé é acreditar, que de muitas formas falo contigo e ajo em sua vida.

-Desculpe-me. Mas o que faço quando as pessoas buscam em mim as respostas que não tenho, mas devo-lhes?
-Tens um sorriso sincero e uma alma pura, deixe que ela lhe guie nestas horas.

-Não será isso uma simples improvisação sem planejamento coerente? Não estarei enganando a eles?
-Não enganas se não prometes.

-Sabes que as pessoas ficam impacientes quando não lhes prometo, não lhes dou data, não lhes dou resposta feita, deixo-as se inflamarem?
-A sinceridade pode ser dura mas é eterna, imutável. Ela é irmã da verdade.

-Desculpe-me, mas o Senhor não tem planos para mim? Devo ir somente aonde acredito que seja o certo, acreditando ser inspirado por ti?
-De fato é difícil as pessoas acreditarem em mim, talvez por isso tudo esteja do jeito que está. Quis Eu que fosse diferente contigo.

-Senhor Deus, quando Pedro ou Paulo tiveram aquela visão das comias imundas, o Senhor mostrou-lhe o caminho, seria demais pedir que me orientasse assim? Seria demais Senhor?
-Não somente posso como já o faço, és cercado por pessoas do bem e que podem te ajudar, mas tu muitas vezes não os dá ouvidos.

-Sim, pois julgo com o que tenho e com o que aprendi a escutar, como posso eu Senhor uma criatura conturbada, como sabes que sou, dar ouvidos ou perceber tua vontade em meio a tanta confusão?
-Tu o sabes. Tu o sabes.

-Senhor, gostaria de comprar um camelo melhor, por vários motivos que já sabes, dentre eles a vaidade é claro, o que me dizes?
Eu lhes dei a Terra para usarem como bem entenderem, lhes dei tudo que há sobre ela, e que lhes tomem proveito, a labuta humana gira em torno disso, não vejo mal desde que saibas a hora certa de o fazer.

-Qual seria a hora certa?
-Atenta teus ouvidos e julga de acordo com o que sabes, não procures em demasiado para não afligir-lhe a alma, na hora certa, se aguardares o suficiente, saberás o que pode e o que não pode. Nunca aflija a alma com estas coisas.

-Deus, volto a insistir. Como devo proceder com meus negócios? Me parece demasiado difícil manter as coisas funcionando, há muito perdi o controle, e faço sofrer pessoas do bem.
-Nem tudo que acreditas é o certo, e o certo só a mim pertence. Tudo que vês são vaidades, e dentre as vaidades as que afligem a alma são as piores.

-Devo eu viver então assim? Esforçado e despreocupado? Não estaria eu sonegando a mim mesmo e aqueles que dependem de mim?
-Melhor é que caminhe constantemente do que parar para pensar sob o sol quente, pois este não lhe dá conforto. Conquanto que não desista de tua jornada, estarás indo para algum lugar. E o homem precisa seguir um caminho, chegar ao seu destino, para tanto é homem, e para tanto existe a jornada, que ensina e leva a algo. Um homem estagnado é o antônimo dele mesmo, antes que não existisse.

-Dívidas, e quanto as minhas dívidas, terei eu condição de pagar-las?
-As dívidas são promessas que avalizam e acorrentam, que fazem transparecer a decência do homem, se és honrado, cumpra-as e ao longo do caminho ser-lhe-há dado forças para que as cumpra. Reflete na atitude de um homem as promessas que faz aos outros e a si mesmo. Se não o fazes para si, quem dirá aos outros. Prometa a si o melhor e trate de o cumprir, siga a sua vida de maneira a ter objetivos, fixos, claros, limpos, e decentes.

-O mundo vai acabar?
-O mundo acaba-se todo dia e todo dia volta a nascer, o mundo como conheces se irá, e o mundo futuro tomará seu lugar. Não sabes distinguir, e se não o sabes, não tens como saber.

-E os "profetas", fale-me sobre eles.
São muitos, tanto quanto as ovelhas, são demasiados, e vertem a fúria e a confusão entre si, desorientam onde devem orientar, criam leis que não estabeleci. São lobos em peles de ovelhas, matam suas ovelhas para tomar-lhes a pele.

-São todos assim?
-Absolutamente não. Assim como nem todas ovelhas são ovelhas, nem todos profetas são profetas. Há muitos que trazem tristeza e se apossaram de autoridade ignóbil para enganar as pessoas. Muitos se sacrificam e acreditam que o fazem por mim, mas não o fazem.

-Existem bons profetas?
Todos aqueles que ajudam seu próximo são bons, todos que ajudam. Se não sabem ajudar e fazem mal, não estão livres de culpa, antes que não fossem "profetas". Pois sua impulsividade os levou a tal ponto, de envergonhar meu nome, se se abusam e se aproveitam em meu nome, estes não serão poupados, sofrerão pois não estarei com eles.

-Deus, é pedir muito que amoleça os corações daqueles a quem devo para que não tornem as coisas mais difíceis do que já está?
-Pedes muito, mas serás atendido, pois pedes compaixão e é algo que tens, por isso não sou Eu que lhe dou, mas tu já o têm.

-Senhor é preciso que eu passe por este caminho tortuoso que eu me encaixe nos teus planos? Ou é culpa somente minha?
-Não há culpa sem intenção. Não há maldade na luz. Todos tem o direito de errar e serem perdoados, a todos plantei uma árvore que lhe dará sombra. Se queimas no sol ardente é porque não vistes ainda a sombra, pelo fato de teus olhos se turvarem com a luz. Feche-os e abra-os novamente, com maior clareza para que de longe enxergues o ponto de descanso que abrandará tuas vistas, verás que há muita sombra em minha sega.

-Fechar os olhos significa não ouvir os outros e crer em Ti?
-Justamente.

-Mas como faço para te ouvir se todos gritam a minha volta?
-Assim como enxergas um pássaro em meio a arbustos, saberá de onde vem minha voz, tão logo consigas me enxergar.

-Obrigado por todas estas palavras de hoje, e confesso que gostaria de respostas mais diretas que me aliviassem a alma. Por que Tens que ser tão enigmático?
Pois sou a raiz que não se vê, mas que mantem firme a planta e a Terra.

-Amém.
-Crê, meu filho.

Inspire-se!

Oi (xxx)

Como anda a sua vida?
Esta cabeça pensou muito estes dias?
Sei que é difícil, pensar em algo novo, pensar sobre o que pensar!
Esquisito não?
Bem, mas não é tão complicado quanto parece.
Lembro-me sempre do que meu pai costuma dizer. E se não lembro não há problema, pois ele faz questão de repetir!
De acordo com ele, ele foi um dos pioneiros alpinistas em sua terra natal. E nas suas aventuras e escaladas era de costume fazer uma boa fogueira no local de acampamento. Porém ao contrário daqui, estas montanhas que ele costumava escalar eram escassas de madeira, logo juntar lenha para fogueira era uma tarefa nada fácil. A tal ponto que todos da expedição paravam para juntar lenha.
Mas ah! Nem é preciso dizer quem era o campeão de juntar lenha! Sim senhor, este que vos visita religiosamente quase que todas as manhãs! O Sr. (xxx)!
De longe já o viam trazendo em seus braços uma grande pilha de lenha, aliás, a maior, sempre!
Sempre?! Mas como é possível?!
Cá está um segredo que guardou a sete chaves, partilhou-o apenas comigo e eu o partilho com vocês!
Enquanto esboça aquele sorriso puxado para baixo num ar de orgulho ele conta:
- Todos saíam correndo em várias direções a procura da lenha, como se quisessem materializar dos seus pensamentos aquele pedaço de pau seco e grande! Embrenhavam-se no mato a procura da “grande lenha”!
- Mas eu!? . Diz ele.
- Eu não! Onde quer eu estivesse já olhava para baixo, e começava a catar dali mesmo e não desprezava nem o menor dos galinhos. E assim eu ia juntando, tanto na ida como na volta. Quando eu percebia já não conseguia mais carregar tanta lenha!
Moral da história?
Bem, acho que não existe uma fórmula mirabolante para ser evoluir, basta começar pelas pequenas coisas, reparar nos detalhes, manter uma constância.
Enquanto escrevo aqui já me brotam idéias!
Vou te dar uma colher de chá viu?
Seguinte,
(xxx)
São as pequenas coisas... que depois acabam por transformar as coisas.
É preciso ver tudo com novos olhos. Temos ainda muitas idéias, mas que ainda são mal aplicadas. Se começar por aí já tem muito o que se fazer.
Quantas vezes você já pensou nisso, mas porque ainda não fez? É a tal história da lenha. Aposto que todos já haviam olhado pro chão, mas sequer repararam pois estavam concentrados demais em achar “A grande lenha”.
Você é uma pessoa alegre, a sua boa disposição me alegra também, e acho isso ótimo, é um dom seu, Deus deu uma caprichada nisto!
Mas enfim ainda somos muito jovens para viver de nossas glorias passadas, por isso não me leve a mal se não te encho de elogios! Pois é pra frente é que se anda não? Tenhamos bastante alegria para comemorar nossas vitórias, mas não esqueçamos que é corrigindo nossos erros é que progredimos!
Bom é isso! Espero ter contribuído para dar uma direção a sua criatividade. Isto é apenas o começo.  Nossa mente não tem limites! Basta imaginar!
Cordialmente,


Ex wife took my child

Caro (xxx)
Eu estava aqui lendo nossas últimas correspondências, foi mais ou menos em Janeiro de 2011,
Nessas últimas cartas tu havia me falado que estavas te separando.
Percebi que o tempo desta vez não te ajudou muito a diluir as mágoas. Pois muita coisa relacionado ao teu filho ainda não está resolvido.
Sabe amigo, eu simplesmente amei a sua visita, foi mágico.
Por outro lado fiquei muito triste em te ver daquela forma. Não é uma tristeza simples, daquelas que uma cena de filme toca-nos no instante, mas uma compaixão. Algo como se eu pudesse sentir a tua alma.
Vislumbrei várias conclusões, acima de tudo uma, a de que és um cara muito forte. É verdade, pois se fosses fraco, não te levantarias a cada tombo, não saías da cama que te acolhe, não enfrentarias o mundo toda a manhã.
Ligas para o teu pai, para o teu filho, para a tua ex. Vai atrás dos problemas como que se quisesse desemperrar todo aquele mal que a ti é como uma montanha que ofusca a tua vista. Mas mesmo assim, atitude por atitude vais destrinchando as coisas.
Envenenas a tua alma e teu corpo com isso, e apesar de demasia sofrimento não hesitas em enfrentar, em sentir saudades e chorar. Talvez as lágrimas lhe saiam para refrescar a alma, assim como o suor para esfriar o corpo.
És batalhador acima de tudo amigo, e independente desta tormenta segues caminhando contra o temporal.
Não vi em ti fraqueza alguma, mas uma força muito grande, capaz de esboçar um sorriso enquanto a dor e confusão corroem-lhe por dentro.
Senti-me por outro lado frustrado, não sabia se meus sentimentos de compaixão e indignação por ver notável alma neste processo deveriam ser lhe reveladas. Não sabia se meu papel como amigo deveria esbofetear-lhe a face para que acordasse deste terrível pesadelo, ou se oferecer meu ombro amigo e sincero seriam o correto protocolo de um amigo.
A verdade é que ainda não sei. E perdoe-me por não poder ser um melhor amigo nestas horas.
Mas é inegável que nossa relação é muito especial, é um truque de Deus não revelado, mas que permite-nos desfrutar nesta vida.
Eu vi o que vi quando estivesses aqui, e permita-me compartilhar minha visão.
Assim como o alpinista melhor vê a montanha a distância, pude perceber que apesar da profundidade das tuas feridas existe um caminho para que possas viver uma vida mais lúcida e feliz.
Queres ouvir de mim isso meu amigo? Estás preparado? Aceita tirar as vendas dos teus olhos?
Peço-te desculpas de antemão por invadir a tua intimidade, e só permito-me faze-lo pois acredito que o inverso também seria bem vindo. Mesmo que o remédio fosse amargo, acredito, seria me para o bem.
O que lhe direi não é nenhuma novidade, não há nova variável nessa equação. Na verdade todas as variáveis estão à sua frente, apenas estão embaralhadas e confusas. Provavelmente nesses anos todos de terapia o mesmo já deve ter lhe sido dito.
A questão é:
Mesmo com a resposta à sua frente, por que é que então as coisas não se resolvem?
É porque és forte demais amigo! Possues uma vitalidade e persistência que sabotam-lhe a ti mesmo. Não há neste mundo Psico, Guru, Pastor ou amigo que seja capaz de permeá-lo com sua doutrina. Pelo contrário. Acredito que quanto mais argumentos lhe dão, mais eficiente torna-se a sua perspicácia. Melhores respostas e justificações lhe são atribuídos. Maior é o poder de sabotagem que você tem contra si próprio.
Todos os teus queridos são capazes de olhar para ti e ver que és capaz, vejo uma pessoa linda, saudável, com um brilho no coração, tens tudo amigo para ser feliz. E para ser feliz não precisas de nada. Nem trabalho, nem esposa, nem filhos. Cobras de ti coisas que você mesmo se impôs.
Não há no mundo manual de felicidade, a não ser aquele que teu coração te diz sempre que paras para ouvi-lo.
Sei que a distância entre você e teu filho é dolorosa. Mas sei que se existe alguma pessoa capaz de superar isto é você meu caro.
Bem sabes que a proximidade com sua ex esposa em tempos de convivência marital não lhe ajudaram em nada para que a relação se afirmasse. Então saberás também que a distância entre você e teu filho de nada significam. Fecha os teus olhos e sinta-o, ele sempre estará em teu coração amigo. E que isso nunca lhe cause dor, mas uma agradável fonte de calor que lhe abriga e com certeza alcança o teu pequenino.
Seja tu mesmo a tua fonte de alegria.
Não se cobres em demasiado. Seja paciente consigo mesmo.
É preciso acima de tudo se fortalecer, alcançar a tua própria lucidez, encontrar teus próprios momentos felizes, coisas estas que não estão a mercê da vontade alheia. Alcance a tua paz acima de tudo. Teu caminho secreto, Seja feliz e tenho certeza de que todo o resto lhe será acrescentado. É fato, é literal, é quântico é religioso, é a verdade.
Está na hora de dizer basta, sair do jogo que jogaste estes anos todos, livrar-se das regras que te acorrentam.
O único jogo é aquele no qual decides apostar tudo numa coisa só, e isso é você.
Lembras das instruções do avião? Caso a máscara de oxigênio caia em quem ela deve ser colocada primeiro? É preciso certificar-se que você está bem para que possas ajudar o próximo. É preciso se amar para amar o próximo.
Que pai que queres ser para teu filho? Seja lindo, irradie amor e alegria e não serão preciso palavras nem declarações. Talvez teu filho não precise ouvir que você o ama, basta ser feliz e ele irá admirá-lo. Pobrezinho ele não pode decidir nada agora. São as regras do mundo. Mas você pode amigo!
Se tua ex esposa escolheu morar longe de ti não foi por falta de opção. Ela tem algo em mente,  não te intimides amigo. Não demonstre tristeza por estar longe, não faças parte deste jogo perverso.
Amigo, aprendi muito contigo. Vi que não faço para meus filhos nem 10% do que fazes para o teu. E já estou mudando, muito obrigado!
Agora quero que aprendas um pouco comigo. Quero que foques em ti e na tua felicidade. Queira Deus que possamos ficar nos 50%. E acredito que assim nós dois seremos melhores pais.
Quanto as mulheres amigo, elas virão. E continue se amando, não é preciso fazer jogos, maquinar ou ser estrategista. Basta que se ame acima de tudo e os frutos virão!
Sempre foste entusiasta da força da mente humana, dissestes do que a mente é capaz e do poder de acreditar nas coisas. Aplique-as em ti agora mesmo. Livre-te dos remédios e das sessões assim que possível, busque em ti a verdade.
Estás cometendo o maior crime de todos que é machucar a si mesmo.

Perdoe-me por remexer em tuas feridas. Se escrevo isso é porque realmente acredito em ti e te amo.

De seu amigo,

Sobre um amigo português

A Lenda do Caixeiro viajante...
Enquanto o acompanhava para sair da loja já ensaiava o ritual de despedida. Um nó de saudade já constringia a minha garganta. Havia agora o homem de sair, tomar seu carro alugado, ir ao hotel fazer as malas e em seu quarto solitário dobrar suas próprias meias, dirigir ate Guarulhos, devolver o carro, tomar o ônibus para campinas e amontoar-se com os outros na fila do check in.
Todo um processo de viagem de volta para casa, uma romaria de 6 horas até que o avião levantasse voo.  Em seu estômago um modesto almoço de botequim partilhado com o amigo. Daí mais onze horas castigando a coluna entre cochilos e avisos de turbulência onde imagina os seus netos ansiosos pelo seu retorno.
Em seu lar também lhe aguarda a mulher amada, mas sabe que apesar dos seus 36 anos da convivência hesita em dizer-lhe tudo que sente, economiza elogios, ele os tem em mente, mas  guarda-os como amuleto de uma promessa de vida feliz.
Faz parte de seu charme franzir a testa e ocupar-se em manter-se ocupado, os alicerces de seu mundo são os pensamentos e raciocínios constantes. Retira energia dia após dia do éter que preenche a atmosfera comercial e calça seus sapatos para percorrer intermináveis jornadas de trabalho. Esta é sua parcela da vida, esta é a maneira de dizer aos seus queridos que os ama, luta por eles e não se abate. O reconhecimento de seu trabalho pelos que ama talvez seja-lhe a melhor declaração, a recíproca afirmação de amor.
Além disso tem charme, é claro, não há brigas com o espelho e tem ciência de si.
Quem o conhece é capaz de perceber graça mesmo quando está ranzinza. Graça ao admitir seus erros. Quem o conhece ou o odeia ou o atura.
Entre uma conversa e outra por vezes admite: “ A João tem o carisma não tem?” Com um sorriso satisfeito de ter cortejado a moça certa num baile romântico. Seus olhos vagam no ar enquanto remexe em pensamentos nos adjetivos de sua amada. Até que volta para si e os guarda lá na sua caixa de amuletos e preces que faz em silencio.
Teimoso como um asno quando cisma com alguma coisa. Não perde uma boa briga, o coração pulsa em sua jugular e é capaz de enfrentar qualquer um, inclusive em línguas que desconhece. Não há farda ou cargo que o intimide, o sangue irriga-lhe o cérebro em questão de milésimos de segundos e dispara a conjugar retóricas afiadas em qualquer que seja o assunto e repito, mesmo em idiomas que desconhece!
Enfim é a pessoa que entrou em nossas vidas há um tempo atrás, e que mesmo em meio a tempestade tem energia para consolar aqueles que queixam-se com a brisa.
Dizem que um amigo ouve atentamente quando o outro entoa melodias em seus momentos felizes, para que as repita quando estiver triste. Que esta carta seja uma partitura para que não esqueçamos esta bela melodia.
Sei que vida não é só brilho, temos nossos segredos, erros e vergonhas, lembro-me de uma frase de profundo significado, quando questionaram a um espanhol sobre a existência de bruxas. “Que los hay, hay. – Pero no mucho!”

Gande abraço e boa viagem amigo!

Sobre meu querido amigo pescador

Acovardavam-me os olhos ao testemunhar tamanha destreza, a de praticar a inveja ousada e incisiva de maneira tão natural, como se fruto de um desatino.
O desvario e dissimulação do elemento davam-lhe naturalidade enquanto orquestrava planos de sabotar a pescaria alheia.
Ao ver seus companheiros de pesca degladiarem-se com infindáveis enredos de linha e dificuldades, este continha seu sorriso e regozijava-se em sua moral quasímoda maquiavélica.
Abanava-se com seu leque imenso de artimanhas e sabotagens que fazia soprar sobre nós desgraças que culminavam na perda de frutíferas fisgadas.
Demérito pescador de traíras nas longínquas pradarias gaúchas nada mais tinha de bagual. Pelo contrário! Homem capado pelos espinhos da idade, restava-lhe apenas rancor e ódio, combustível para inflamar-lhe  o fígado e expelir sobre nós a bile da inveja.
Outrora de moral incorruptível, naufrágio das ilusões de moço, agora dominado por medicamentos de tarja preta, já não era mais ele que pensava. E sim o Gardenal.
Seu cúmplice in pectore, a libido já há muito havia se perdido em meio a tantos medicamentos e tratamentos invasivos. Os prazeres de sua tenra idade agora resumiam-se a sessões de exames de próstata, mas não tão prazeroso quanto não sentir a dor no ciático. O prazer ativo agora vinha do passivo.
Obstinado em devorar o que resta de otimismo na equipe, acabrunha o piloto e desconcerta-lhe a mente para que não encontre seu caminho de volta. Torna a repetir estórias enfadonhas de maneira incessante como um mantra para turvar-lhe os olhos.
Este piloto que por sua vez perde os sentidos e erra o caminho de volta à morada. Confunde o norte pelo sul e o leste pelo oeste.
Ai! Quanta inveja!
Será o homem capaz de resistir a tal força?
Manterá a alma blindagem incorruptível mediante tamanho esforço?
O buraco negro do invejoso é de tamanha densidade que alicia para lá no fundo até homens de bom grado como nós?
Quando será que tal decrépito tomará seu lugar de honra devido? Aceitando enfim assistir passivamente seus companheiros capturarem belos exemplares de peixes?
Torçamos para que o aumento na sua dose de Gardenal surta o efeito desejado!
E que conste nos anais deste manifesto, a inveja é uma merda!

Mindstamina